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Terça-feira, 11 de maio de 2021
Circular de maio de 2021 de Dom Milton
Barretos, 11 de maio de 2021
Circular 05/2021
Caros irmãos e irmãs,
Dando continuidade às nossas reflexões sobre a Exortação Apostólica Pós-sinodal “Amoris Laetitia” (A Alegria do Amor), quero nesta circular deter-me a alguns parágrafos onde o Papa fala da necessidade de dar ao acompanhamento das famílias e dos jovens que se preparam para o matrimônio, um enfoque mais positivo.
Vivemos um tempo em que vemos uma “decadência cultural” que não valoriza o amor e a doação. Um tempo da “cultura do provisório”, ou seja, a rapidez com que as pessoas passam de uma relação afetiva para outra. Algo como se dá nas redes sociais, onde conectamos ou desconectamos conforme nossos interesses e gostos.
É uma época onde o compromisso permanente gera medo, onde há uma obsessão pelo tempo livre, quando as relações se medem pelo custo e benefício; onde com facilidade transferimos para as relações pessoais a relação que mantemos com os objetos e o meio ambiente, onde tudo é descartável.
Em tempo de pandemia, como diz Francisco, ficam mais visíveis ainda as nossas fraquezas, os nossos interesses; e particularmente mais fragilizadas nossas famílias, que sofrem não só com a rapidez do vírus que atinge seus membros, mas também com a morte solitária daqueles que amam, e a impossibilidade de se despedirem deles.
É preciso também considerar que, em razão da pandemia, há um aumento expressivo de famílias abaixo da linha de pobreza, sem condições de manterem seus compromissos, obrigadas a deixarem suas casas por não poderem arcar com o aluguel e se alojarem nas áreas mais miseráveis de nossas cidades.
Diante deste horizonte, o Papa nos convida a imitar o Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37), a nos tornarmos uma Igreja que cuida do que é frágil.
“Nestes momentos em que tudo parece diluir-se e perder consistência, faz-nos bem invocar a solidez, que deriva do fato de nos sabermos responsáveis pela fragilidade dos outros na procura dum destino comum. A solidariedade manifesta-se concretamente no serviço, que pode assumir formas muito variadas de cuidar dos outros. O serviço é, em grande parte, cuidar da fragilidade. Servir significa cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade, do nosso povo” (Fratelli Tutti n. 115).
Quando Francisco refere-se a uma “pastoral positiva”, ele fala da importância de valorizar os pequenos gestos, a história de cada família ou de cada casal que se prepara para o matrimônio, procurando descobrir nela a presença santificadora do Espírito Santo, a ação de Deus que age na vida de todos os seus filhos e filhas.
Para que a nossa pastoral com as famílias seja positiva, é preciso que ela seja acolhedora, capaz de acompanhar, discernir e integrar; passarmos de uma postura de ataque ao mundo, para oferecer uma mensagem que seja um reflexo claro da pregação e das atitudes de Jesus, o qual, ao mesmo tempo que propunha um ideal exigente, não perdia jamais a proximidade compassiva às pessoas frágeis como a samaritana ou a mulher adúltera.
Por isso, será importante que ofereçamos espaços de apoio e aconselhamento sobre questões relacionadas com o crescimento do amor, a superação dos conflitos e a educação dos filhos; através de casais dispostos a ouvir, acompanhar e ajudar aqueles casais e famílias que se encontram numa situação mais vulnerável.
Ao mesmo tempo devemos unir à solidariedade o compromisso de apresentar aos jovens, a começar dos próprios lares cristãos, a beleza do amor matrimonial. Com certeza é o testemunho dos pais que levarão os filhos a compreenderem a beleza do matrimônio, que não aprisiona, mas liberta, que às vezes é exigente mas, por outro lado, dá solidez à vida de uma família.
Num mundo com tantos desafios, encontramos também possibilidades, oportunidade de nos reinventar para tornar a proposta de amor do Evangelho mais atraente e cativante, onde o matrimônio surge mais como um caminho dinâmico de crescimento e realização do que como um fardo a carregar a vida inteira.
Que a Sagrada Família de Nazaré continue a nos inspirar e ajudar a tornar nossos lares “lugares de comunhão e cenáculos de oração, autênticas escolas do Evangelho e pequenas igrejas domésticas”.
Dom Milton Kenan Júnior
Bispo de Barretos
Num momento que nos desafia a todos, Francisco diz: “Precisamos de encontrar as palavras, as motivações e os testemunhos que nos ajudem a tocar as cordas mais íntimas dos jovens, onde são mais capazes de generosidade, de compromisso, de amor e até mesmo de heroísmo, para convidá-los a aceitar, com entusiasmo e coragem, o desafio do matrimônio” (Amoris Laetitia, 40).
Por: Dom Milton Kenan Junior
Sobre o autor:
Dom Milton é o 6º bispo da Diocese de Barretos. E-mail: dommilton@diocesedebarretos.com.br