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Sábado, 02 de abril de 2022
Artigo do Pe. Ivanaldo: Colo de Pai! Abraço de irmão!
Tendo em vista a preparação para a celebração da Páscoa, o tempo quaresmal revela-se profundamente marcado pelo apelo a conversão. Conversão é processo que favorece mudança; na sinalização de trânsito a placa de conversão indica não ser possível seguir adiante, fazendo-se necessário mudar a direção; do ponto de vista espiritual, conversão significa transformação, como resposta/adesão a um novo projeto de vida. A proposta cristã tem, na conversão, compreendida como processo permanente de transformação, uma de suas principais características.
Atrelado á esta compreensão está o exercício do perdão. O processo de conversão só é possível porque Deus, em sua infinita bondade, mais que simplesmente perdoar, faz-se perdão. Manifestando infinita misericórdia, Ele se inclina, para resgatar os que se perderam, sobretudo, no pecado. Preenchido pelo amor e misericórdia de Deus, o discípulo de Jesus é chamado, igualmente, a amar e perdoar, reconhecendo a todos, indistintamente, como irmãos. Este movimento, para além da meritocracia, é obra da graça de Deus: Ele nos amou primeiro.
O caminho da conversão atrelado ao perdão e misericórdia é ilustrado pelo Evangelho de Lucas (Lc 15, 1-3.11-32), no qual a passagem erroneamente intitulada ‘parábola do filho pródigo’ por colocar o foco da ação no filho pecador, ignora a atitude a ser exaltada, a do pai misericordioso. Se por um lado a passagem revela-nos a grandeza de Deus que, como pai amoroso perdoa e acolhe seus filhos, por outro, revela a dificuldade dos filhos, tanto o que saiu de casa, como o mais velho, em acolher o amor gratuito do Pai e amarem-se, verdadeiramente, como irmãos.
Na verdade, os dois filhos saíram de casa: o mais novo, de maneira evidente, pegou o que era seu e partiu para uma região distante; o mais velho, mesmo ficando, não entregara o coração ao Pai. Na verdade, nenhum dos filhos conhecia o Pai, pois ambos pensavam que Seu coração fosse regulado, como os seus corações, por critérios egocêntricos (pois cada um desejava ser o centro das atenções) e egoístas (pois ambos se negavam a partilhar).
O filho mais novo, decidindo voltar, não por amor ao Pai, mas porque sentiu fome, desejou ser tratado como empregado. O Pai, porém, colocou-o em seu devido lugar, como filho-herdeiro, mandando preparar o banquete. O filho mais velho e, aparentemente exemplar, cobrou caro por seu bom comportamento: agrediu o Pai e negou o irmão. O Pai, porém, foi ao seu encontro, colocou-o em seu devido lugar, como filho-herdeiro, convidando-o para o banquete e recuperando-lhe a consciência acerca da fraternidade.
O caminho que nos prepara a uma nova Páscoa, evidencia duas realidades sem as quais é impossível viver bem, e que pedem de nós um coração capaz de amar e perdoar: o colo de Pai e o abraço de irmão!
Por: Padre Ivanaldo Gonçalves de Mendonça
Sobre o autor:
Pe. Ivanaldo é pós-graduado em Psicologia, pároco da Paróquia São José de Olímpia. E-mail: ivanpsicol@hotmail.com