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Artigo do Pe. Ivanaldo: Comece pelas raízes
A celebração que memoriza a encarnação do Filho Deus feito homem para a salvação de todos, não objetiva outra coisa que não, propor, a cada ser humano e a toda a humanidade, começar ou recomeçar a partir de Cristo. O menino já nasceu; em tudo, exceto no pecado, como nós viveu; entregou-se à morte de cruz; ressuscitou, reabrindo-nos a possibilidade da vida eterna que o pecado roubara. Fazer memória do Natal, mais do que simplesmente recordar, significa renascer, assumindo Jesus como referencial para nosso pensar, sentir, falar e agir, cristificando-nos mais, a cada dia.
Pedagogicamente a Mãe-Igreja insere-nos, através do calendário litúrgico, da forma como as celebrações estão organizadas, neste tremendo e inefável mistério da fé. Mistério não por ser oculto, mas por, mesmo revelando-se claramente, continuar inesgotável: Deus é sempre mais. O ciclo do Natal distribui-se em três momentos: preparação (tempo do advento), celebração (solenidade do Natal) e prolongamento (tempo do Natal). As quatro semanas do advento propõe-nos a espera vigilante e esperançosa do Senhor.
Nesse caminho, a atitude de conversão impõe-se naturalmente. Converter significa mudar de direção, sentido e orientação. Quando não obedecermos à placa de trânsito que sugere conversão, colocamos em risco a nós mesmos e a outros; os traumas consequentes podem ser irreversíveis e até fatais. Ao anunciar a vinda do Salvador as Sagradas Escrituras evidenciam por onde tudo deve começar: “Naqueles dias nascerá uma haste do tronco de Jessé, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor ...” (Isaías 11,1-10). O agir de Deus começa pela raiz!
A proposta do Evangelho contraria nossas tendências: começando pela cabeça (razão) sucumbimos; começando pelo coração desistimos; começando pelos braços cansamos; começando pelos pés perdemo-nos. A raiz não é um órgão localizado, ela significa o mais profundo do nosso ser. De maneira geral, remediamos, disfarçando o azedume dos frutos, a doença das folhas, a fraqueza dos galhos, a podridão do tronco. Conversão pede de nós ousadia para descer às raízes de nossa existência; lá, e só lá, encontraremos respostas às perguntas que nos incomodam por toda a vida.
Descer às raízes custa muito, porém, é o único caminho possível ao verdadeiro renascimento, pois possibilita-nos a consciência acerca de nossas belezas, limites e imperfeições. De certa forma este movimento coloca-nos em risco, fazendo desmoronar falsas verdades sob as quais estabelecemos nosso viver, mas, permitindo-nos não apenas recomeçar, mas recomeçar do jeito certo, o jeito de Jesus. Que a celebração de um novo Natal seja ocasião de verdadeiro renascimento. Já sabemos por onde começar: pelas raízes!