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Homilia de Dom Milton Em Franca sobre as relíquias de Santa Teresinha
HOMILIA DE DOM MILTON KENAN JÚNIOR, POR OCASIÃO DA VISITA DAS RELÍQUIAS DE SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS, AO CARMELO DE FRANCA.
FRANCA – SP, 11 DE AGOSTO DE 2024.
"Ah! Apesar de minha pequenez, quisera esclarecer as almas como os Profetas, os Doutores: tenho vocação de ser Apóstolo... Quisera percorrer a terra, pregar teu nome e implantar no solo infiel tua Cruz gloriosa. Mas, oh, meu Amado, uma missão não me bastaria. Quisera anunciar, ao mesmo tempo, o evangelho nas cinco partes do mundo e até nas ilhas mais distantes... Quiser ser missionária, não somente durante alguns anos, mas gostaria de tê-lo sido desde a criação do mundo e sê-lo até a consumação dos séculos..." (Ms. B, 3r).
Deus que fazia Santa Teresinha desejar o que queria lhe dar, não deixou de satisfazer o seu pedido de tornar-se missionária. Houve um período se cogitou a sua ida para um Carmelo na China, mas sua saúde estava frágil demais, o que impediu que se realizasse esse propósito. Mas, Deus por sua vez não deixou de satisfazer seu desejo, permitindo que ela realizasse seu desejo, fazendo que suas relíquias cheguem aos lugares que há um tempo era inconcebível chegar. Hoje, ela está entre nós! Deus permite que ela venha como missionária para pregar o seu Nome, e anunciar o seu amor.
Quando Santa Teresinha foi procurar no caderno de anotações de sua irmã Celina os textos que poderiam iluminar sua ideia de perfeição, ela encontrou estas palavras do profeta Isaías: "Assim como uma mãe acaricia seu filhinho, assim eu vos consolarei; aconchegar-vos-ei ao meu seio e acariciar-vos-ei sobre meus joelhos!" (Is 66,13.12). Ela mesmo exclama: "Ah! nunca palavras mais doces, mais melodiosas vieram alegrar minha alma!" (Ms C, 3r). Sim, podemos imaginar o espanto de santa Teresinha que havia perdido sua mãe aos quatro anos e meio ler que Deus é como uma mãe! Uma mãe que encontra suas delícias em tomar seus filhos ao colo e dar-lhes de mamar.
Essa descoberta revolucionou a sua vida. Não havia mais por que amedrontar-se diante das intempéries da vida, não havia mais por que chorar suas faltas, pois Deus é o Pai mais terno que uma mãe, capaz de comover-se com os sussurros de seus filhinhos e de encher-se de ternura para com eles.
Ainda hoje muitas pessoas vivem aflitas e amedrontadas. Não faltam também hoje pregadores que insistem em falar da justiça de Deus.
Numa carta a seu irmão espiritual Pe. Roulland, Santa Teresinha escreveu: "Espero tanto da Justiça divina quanto de sua misericórdia. Por ser justo é que ele é "compassivo, cheio de doçura, lento para punir abundante em misericórdia. Porque conhece nossa fragilidade, lembra-se de que somos pós. Como um pai tem compaixão de seus filhos, assim o Senhor tem compaixão de nós!" (CT 226).
Crer no Amor. Esperar no Amor. Amar o Amor é o convite que Santa Teresinha repete a cada um de nós. Suas palavras são um eco das palavras do Apóstolo São Paulo que ouvimos hoje: "Vivei no Amor, como Cristo nos amou e se entregou a si mesmo a Deus por nós..." (Ef 5,1).
O Amor para santa Teresinha não é um sentimento fugaz, mas ele tem um rosto e tem um nome. Santa Teresinha diz que o Amor é Jesus! Jesus é o Filho amado do Pai que veio revelar ao mundo o seu amor. Como podemos duvidar desse amor que faz do seu filho o pão que dá a vida ao mundo?
O amor para santa Teresinha é sempre concreto. "Não tenho outro meio para provar-te meu amor senão jogando flores, isto é, não deixando escapar nenhum sacrificiozinho, nenhum olhar, nenhuma palavra, aproveitando de todas as pequenas coisas e fazendo-as por amor... Quero sofrer por amor e até gozar por amor..." (Ms. B, 4r°).
"Vivei no amor" é o convite que Santa Teresinha hoje nos faz! No amor encontramos a chave capaz de desvendar o segredo da nossa existência. Quando da queda dos nossos pais, no início de tudo, eles e através deles fomos feridos e carregamos essa chaga. Fomos feridos na confiança. Custa-nos compreender e aceitar que Deus nos ama incondicionalmente. O amor de Deus parece que se tornou uma ilusão, uma fantasia, quando na verdade deve ser a certeza que nos faça caminhar no amor. Amados para amar!
Santa Teresinha diz que foi no último ano da sua vida quando foi destinada a ajudar Irma Maria de São José na rouparia do Carmelo que ela compreendeu o significado do mandamento de Jesus. Não se trata mais de amar o próximo como a si mesmo, mas como Jesus o amou e como o amará até a consumação dos séculos. (cf. Ms C 12v).
Ela destinou vinte páginas do seu manuscrito para falar desse amor real e concreto pelo próximo. "Compreendo, agora, que a caridade consiste em suportar os defeitos dos outros, em não se admirar de suas fraquezas, em se edificar com os mínimos atos de virtude que se vê praticar. Mas, sobretudo, compreendi que a caridade não deve ficar encerrada no fundo coração" (C, 12r).
Ela vai concluir suas palavras sobre a caridade dizendo: "Só a caridade me pode dilatar o coração. Oh, Jesus" Deus que esta doce chama o consome, corro com alegria na vida de vosso mandamento novo... Quero correr até o feliz dia em que, unindo-me ao cortejo virginal, puder seguir-vos nos espaços infinitos cantando vosso cânico novo que deve ser o do Amor" (Ms C 16r).
Audai-nos Santa Teresinha a seguir os vossos passos. Que todos nós que vos encontramos hoje possamos acompanhar-vos na missão de testemunhar o amor no nosso tempo. Que a nossa vida como a vossa, possa ser como uma pequena rosa cujo perfume invade tudo com a fragrância do amor. Fazei-nos compreender que o amor abarca todas as vocações, que o amor é tudo. Fazei-nos compreender que o amor salvará o mundo.
Dom Milton Kenan Júnior
BISPO DE BARRETOS