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Domingo, 04 de julho de 2021

Artigo do Pe. Ivanaldo: Nossas neuroses coletivas

Foto | Artigo do Pe. Ivanaldo: Nossas neuroses coletivas
A busca pela compreensão de fenômenos que, nos tempos presentes, geram e produzem sofrimentos revela, igualmente, inúmeros desafios. A preciosa colaboração das ciências que lidam de forma mais direta com a realidade do sofrimento e a promoção da saúde humana, de maneira particular, a psiquiatria e a psicologia, colocam a disposição o conceito de neurose que, muito embora, de maneira geral, seja abordado a nível individual pode, também, ter como objeto a coletividade.
 
Objetivamente o dicionário apresenta o termo neurose como um quadro clínico atípico definido por sentimentos e emoções negativas. Dentre os diversos tipos de neuroses que podem afetar uma pessoa estão: fobias, ansiedade, sensação de vazio e não pertencimento, paranoia, isolamento social, apatia, insônia e pessimismo. Uma percepção geral afirma que os indivíduos neuróticos possuem grandes apreensões sobre tudo a sua volta, além de serem emocionalmente vulneráveis e não reagirem bem a mudanças ou críticas.
 
Os efeitos das neuroses são potencializados, em nossos tempos, pela pandemia do novo coronavírus. Para além dos impactos próprios da contaminação pela Covid-19 que no Brasil já vitimou mais de 500 mil pessoas, são devastadores os impactos diretos da pandemia nas coletividades, tanto nas vítimas diretas dos efeitos socioeconômicos, quanto naqueles que, mesmo não expostos diretamente sentem-se afligidos. Há quem sequer passara perto do risco de contaminação ou efeitos sociais da pandemia e que entrara num grau de sofrimento extremo.
 
Muito acrescente a nossa reflexão o pensamento de Viktor Frankl, psiquiatra e pai da abordagem psicológica denominada logoterapia. Os tempos presentes roubam do ser humano aquilo que nele existe de mais específico e próprio: o sentido da vida. As neuroses coletivas são doenças próprias do ‘espírito de cada época’, consequentes da perda do sentido da vida das coletividades e da busca desenfreada por vontade de ‘poder’ e ‘prazer’, elementos que não preenchem os níveis exigidos pela vontade de sentido. Frankl destaca quatro formas de as neuroses coletivas se manifestarem:
 
1. Atitude existencial provisória: manifesta pela compreensão de que se deve ‘viver o dia’ em detrimento da compreensão do sentido da vida como ‘algo mais’;
 
2. Atitude fatalista perante a vida: manifesta pela compreensão de um ‘destino inevitável’ que ignora a capacidade de escolha, liberdade e responsabilidade humana;
 
3. O pensamento coletivista: manifesto pela atitude de ignorar a si e ao outro, levando a busca por sobressair em meio às massas, e, consequentemente, afogando-se nelas;
 
4. O fanatismo: manifesto pela atitude que ignora o pensar do outro e busca impor-se a todo custo;
 
Enquanto presos a sintomas e a buscas por explicações que sequer passam perto das reais causas dos sofrimentos coletivos de nossos tempos, a perda do sentido da vida, seguiremos doentes, cada vez mais. Haja remédio!
 
Por: Padre Ivanaldo Gonçalves de Mendonça
Padre Ivanaldo Gonçalves de Mendonça

Sobre o autor:

Pe. Ivanaldo é pós-graduado em Psicologia, pároco da Paróquia São José de Olímpia. E-mail: ivanpsicol@hotmail.com
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