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Sábado, 28 de novembro de 2020

Artigo do Pe. Ivanaldo: Voz do Silêncio

Foto | Artigo do Pe. Ivanaldo: Voz do Silêncio
Volta e meia o palestrante era interrompido: celulares, cochichos, risadas, bocejos, altos papos. O público? Todos adultos. O mundo barulhento impõe uma resistência generalizada e extrema ao silêncio. Quem pouco fala é Zé ninguém, quem muito fala é líder nato. Os meios de comunicação lideram a campanha: Silêncio não! Embora definido como ausência total ou relativa de sons audíveis, silêncio não é ausência de comunicação. O Silêncio fala!
 
Quem nunca foi abraçado pelo silêncio? O silêncio como resposta, pergunta, negação, discordância, dúvida ou interrogação; expressão de emoção, alegria, dor, tristeza ou angústia; expressão da surpresa do encontro ou dor da despedida; sinônimo de ‘estou pensando’, ‘não sei o que dizer’, ‘me perdoe’, ‘eu te amo’. A busca incessante por palavras desvia nossa atenção da importância que o silêncio possui, enquanto elemento essencial no processo de comunicação.
 
No silêncio, escutamos e conhecemos melhor a nós mesmos. Assim, nasce e aprofunda-se o pensamento, a compreensão clara do que dizemos e ouvimos. No silêncio, permite-se ao outro falar e se expressar sem ser submisso às nossas palavras e ideias, tornando possível a escuta recíproca e uma relação humana mais plena. No silêncio identificam-se autênticas expressões de amor: o gesto, o semblante, o corpo, a alegria, as preocupações, o sofrimento.  O silêncio é essencial para discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório, quando as mensagens e a informação são abundantes.
 
O silêncio favorece a reflexão profunda, ajuda-nos a descobrir a relação existente entre acontecimentos que, à primeira vista, parecem não ter ligação entre si, a avaliar e analisar as mensagens, possibilitando que compartilhemos opiniões de maneira ponderada, pertinente e autêntica.
 
As diversas tradições religiosas cultivam o silêncio. Deus fala no silêncio; no silêncio o homem fala com Deus e sobre Deus, orando, meditando, contemplando. O silêncio constitui espaço privilegiado para ajudar as pessoas a encontrar-se a si mesmas e à Verdade que dá sentido a todas as coisas. Deus falou, sem palavras, através da cruz de Cristo, revelando a eloquência do Seu amor sem limites.
 
É necessário criar um ambiente propício, uma espécie de “ecossistema” capaz de equilibrar silêncio, palavra, imagens e sons. Educar-se em comunicação quer dizer aprender a escutar, a contemplar, para além de falar. Cultivar a arte do silêncio é um desafio proposto a todo ser humano e, assumido, corajosamente por aquele que, mais que simplesmente existir, busca, de forma consciente, livremente e responsável, sentido para sua existência.
 
Silenciar-se não é ser fraco, omisso ou covarde. O silêncio, na medida certa, na hora certa e do jeito certo é manifestação de maturidade e equilíbrio, é a resposta mais completa, profunda e verdadeira.
 
Por: Padre Ivanaldo Gonçalves de Mendonça
Padre Ivanaldo Gonçalves de Mendonça

Sobre o autor:

Pe. Ivanaldo é pós-graduado em Psicologia, pároco da Paróquia São José de Olímpia. E-mail: ivanpsicol@hotmail.com
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