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Sábado, 10 de abril de 2021

Circular de abril de 2021 de Dom Milton

Foto |  Circular de abril de 2021 de Dom Milton
Barretos, 10 de abril de 2021
 
Circular 04/2021
 
 
Caríssimos(as) diocesanos(as),
           
Como anunciei na circular do mês passado, minha intenção é de desenvolver nas circulares mensais, neste ano, algumas reflexões sobre a família, a partir da Exortação Apostólica Pós-sinodal “Amoris Laetitia” (AL) do Papa Francisco, que completa cinco anos da sua publicação.
           
Neste mês, quero abordar o tema da família na Palavra de Deus, que é justamente o título do primeiro capítulo da AL: “À luz da Palavra”. A Bíblia, podemos afirmar, demonstra ser um livro de família, pois como afirma o Papa, nela encontramos muitas famílias, gerações, histórias de amor e de crises familiares, desde a narração da família dos nossos primeiros pais até o último capítulo do livro de Apocalipse (AL 8).
           
A título de exemplo, em Gênesis 27 encontramos a narração da bênção que Isaac concede a Jacó. Nele vemos que, para obter a bênção destinada ao primeiro filho, Jacó, ajudado pela sua mãe Rebeca, usurpa a bênção de Isaac. Convenhamos que não é uma atitude louvável nem da mãe, nem do filho; ao contrário, eles agem movidos pelos seus interesses mesquinhos que geram doravante um conflito que se estende por anos entre Jacó e Esaú.
 
Mas, a história da família de Jacó não termina aí. Mais adiante encontramos a história de José, um dos seus filhos, que por inveja foi vendido por seus irmãos (Gn 27, 12-26) para alguns mercadores que o levaram para o Egito, onde trabalhou como escravo. Dotado de um dom divino especial, foi feito ministro do Faraó egípcio que lhe permitiu salvar sua família num período de penúria (Gn 47-50).
 
Não foi diferente a história da família de Davi com os seus filhos, particularmente Absalão, que conspira contra seu pai e organiza um golpe para substituí-lo no trono de Israel (2Samuel 15-18,18).
 
Assim, na Bíblia encontramos diversas famílias com histórias tumultuadas, não diferentes da história de muitas famílias do nosso tempo que têm que conviver com inimizades, desavenças e traição. Situações que se tornam patentes quando se trata de dividir uma herança, ou então de readmitir algum familiar que, depois de anos distantes, volta para os seus lares suplicando o perdão; como o filho mais jovem da parábola da misericórdia (cf. Lc 15, 11-32).
 
Sem dúvida, não são apenas situações dolorosas como estas que encontramos na Palavra de Deus. No Salmo 128(127), o Salmista evoca o exemplo de uma família como sinal de bênção divina: “Tua esposa, como videira fecunda no interior da tua casa. Teus filhos, como rebentos de oliveira, ao redor de tua mesa”.
 
É o caso de Zacarias e Isabel: “Ambos eram justos diante de Deus e caminhavam irrepreensivelmente em todos os mandamentos e preceitos do Senhor” Lc 1,6).
 
Ainda hoje são inúmeras as famílias que vivem da graça de Deus, que fazem dos seus lares verdadeiras igrejas domésticas e testemunham pela sua convivência a alegria do amor, tornando-se assim um testemunho forte diante do mundo e da Igreja, daquela relação de amor que existe entre Cristo e a Igreja, entre Deus e o seu povo.
 
Ao falar de Jesus e da sua família, o Papa Francisco diz de uma família modesta que vive do seu trabalho, que se tornou assim o ícone da família (AL 30). E ao descrever o ministério de Jesus, o apresenta em contato com as famílias nas mais diversas situações, sempre sensível ao sofrimento que elas viviam e pronto para socorrê-las na necessidade.
 
A Palavra de Deus nos diz, portanto, que apesar dos seus problemas, de situações nem sempre exemplares, Deus sempre permanece fiel à família. Deus é aquele que age em tudo para sustentar a vida de uma família e torná-la uma imagem da sua própria vida trinitária. E não passa despercebido aos seus olhos nenhum gesto em favor das famílias.
 
Nos Atos dos Apóstolos são muitas as famílias que acolhem os apóstolos e aderem à fé como, por exemplo, a família de Cornélio, centurião romano, que recebe Pedro em sua casa e receberam o batismo (At 10, 48); de Lídia e os seus que acolheram Paulo e Timóteo em sua casa, em Filipos, e abraçaram a fé (At 16,14-15); e o casal Priscila e Áquila em Corinto (At 18, 1-2) e em Éfeso (At 18,26), que acompanham Paulo em suas viagens.
 
As casas tornaram-se, por sua vez, o local por excelência do encontro dos discípulos de Cristo onde se celebrava a Eucaristia e se transmitia o ensinamento dos apóstolos.
 
Toda Igreja é chamada a tornar-se uma família, a família de Deus (cf. Ef 2,19), onde devem prevalecer os sentimentos de compaixão, bondade, humildade, mansidão, paciência e perdão; acima de tudo o amor, que é o vínculo da perfeição (cf. Col 3,12-15).
 
Em cada lar, em cada família, Deus quer fazer refulgir a sua presença amorosa, e assim transformar o mundo marcado pela violência e pela falta de amor.
 
Ao considerar a importância que a Palavra de Deus dá a nossas famílias, e o lugar que elas desempenham na vida da Igreja, iluminados pela Amoris Laetitia, procuremos ajudar nossas famílias a realizar sua vocação oferecendo-lhes a ajuda da Palavra de Deus e da oração, e a possibilidade de que muitas famílias estejam unidas entre si, apoiando-se mutuamente no cumprimento da sua vocação e da sua missão.
 
Dom Milton Kenan Junior
Bispo de Barretos
 
Por: Dom Milton Kenan Junior
Dom Milton Kenan Junior

Sobre o autor:

Dom Milton é o 6º bispo da Diocese de Barretos. E-mail: dommilton@diocesedebarretos.com.br
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