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Artigo do padre Ivanaldo: Homem da Caverna
Entendida comumente, a expressão ‘homem da caverna’ refere-se a uma etapa do desenvolvimento da humanidade, na qual o homem morava em cavernas, conhecia o fogo e enterrava os mortos. Através de Platão, a filosofia, mãe de todas as ciências, propõe-nos ir além, refletindo acerca dos pensamentos, sentimentos, comportamentos e atitudes que caracterizam o ‘homem da caverna’.
“Imaginemos um muro bem alto separando o mundo externo e uma caverna. Na caverna existe uma fresta por onde passa um feixe de luz. Em seu interior permanecem seres humanos que ai nasceram e cresceram. Vivem de costas para a entrada, acorrentados, não se movem, forçados a olhar somente a parede do fundo da caverna, onde são projetadas sombras de outros homens que, além do muro, mantêm acesa uma fogueira. Pelas paredes da caverna ecoam sons que vêm de fora, de modo que os prisioneiros, associando-os às sombras, pensam ser eles as falas das mesmas, julgando que as sombras sejam a realidade”.
A obra ‘A República’ serve-se, pedagogicamente, da imagem da caverna para ilustrar a condição de ignorância, livremente abraçada por muitos. O mundo da caverna é o universo das muitas mentiras ou meias verdades, acolhidas, individual e coletivamente, como verdades absolutas.
“Imagine que um dos prisioneiros consiga se libertar e, aos poucos, vá se movendo e avance na direção do muro e o escale, enfrentando com dificuldade os obstáculos que encontre e saia da caverna, descobrindo não apenas que as sombras eram feitas por homens como eles, e, mais além, todo o mundo e a natureza. Caso decida voltar à caverna para revelar aos seus antigos companheiros a situação extremamente enganosa em que se encontram, correrá sérios riscos - desde o simples ser ignorado até, caso consigam, ser agarrado e morto por eles, que o tomaram por louco e inventor de mentiras.” Aqui encontramos os que, num contínuo esforço, ultrapassam o que todo mundo pensa, sente, fala e faz.
Somos homens da caverna quando acomodados e acostumados com o mudo das falsas verdades, acorrentados a falsas crenças, preconceitos e idéias enganosas. A falsa idéia de estabilidade nos escraviza nesta condição. A caverna é nosso mundo, nossa casa, nosso trabalho, nosso partido, nossa religião, estruturas individuais e sociais que, quando distanciadas de seus reais objetivos servem ás sombras. Os que saem da caverva? Conta-se nos dedos. É interesse do ‘homem da caverna’ que a voz da sabedoria seja estrategicamente sufocada, que ninguém saia e, caso saia, nunca retorne. Homens de sabedoria, só o serão de fato, se não abrirem mão da missão de colaborar para a libertação de todos. Se o fizerem serão sábios da caverna, mesmo estando fora dela. Ousemos sair da caverna!
Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia, Coaching
ivanpsicol@hotmail.