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Artigo do padre Ivanaldo: Presente de Natal
Dias antes do Natal, tarde da noite, recebi um telefonema. Um amigo, que há muito não via, num tom de desespero, pedia ao padre que fosse até o hospital, conceder o Sacramento da Unção dos Enfermos à sua avó. Ás portas do hospital, ele veio ao meu encontro e, num forte abraço, mergulhado em lágrimas, anunciou: “Ela acaba de falecer”.
No quarto, a família chorava diante do corpo ainda quente. Ao final da oração, motivei que falassem sobre aquele momento. Um a um, dos mais velhos aos adolescentes, todos rezaram dizendo: “Muito obrigado, Senhor”. De onde vinha a força para que, diante da morte, eles agradecessem? Mãe dedicada, esposa fiel, dócil, paciente, corajosa, sábia, amiga de todos, íntima de Deus... Percebi de onde vinha, e, só de onde poderia vir a reposta: estava diante de pessoas de fé.
Humanamente contraditória aquela cena. Embora a dor pela morte de alguém especial fosse profunda, a força da fé, bem vivida e bem testemunhada por aquela mulher, tivera efeito revolucionário em sua vida e na vida de seus familiares que eles entenderam, mais do que com a mente, com o coração, que a falência múltipla de órgãos, não era razão suficiente para fazê-la morrer, nem no coração de Deus, nem em seus corações. Recebi, assim, o mais belo presente de Natal; experimentei, de fato, o que significa renascer com Cristo e deixar-se ser por Ele restaurado.
Não celebramos o Natal pelo simples fato de Cristo haver nascido, pois nascer todos nascem, nem tampouco, por Ele haver morrido, pois morrer todos morrem. Celebramos o Natal porque, para além do nascer ou morrer, esta festa memoriza, atualiza e eterniza a ação amorosa de Deus, em favor dos homens, através de Jesus feito homem. Celebramos o Natal porque Jesus Ressuscitou, venceu a morte, nos libertou. A imagem terna do menino à manjedoura, deve nos conduzir à imagem do homem que, por amor, entregou sua vida pela nossa salvação, deve motivar-nos a amar como Ele, perdoar como Ele, doar-nos como Ele.
O sentido do Natal não está na manjedoura, não está na cruz, ma sim, para além da cruz, no horizonte infinito do amor de Deus que abraça a todos que O permitem. Num hospital recebi meu presente de Natal: contemplar a bonita lição de vida transmitida por aquela mulher e experimentar a certeza de que sua vida terrena havia valido a pena. Assim, experimentamos a força do amor de Deus renascer em nós, tornando-nos ainda mais responsáveis por sermos instrumentos para que o Natal aconteça todos os dias, recebendo-nos e doando-nos, uns aos outros, como presente de Deus, todos os dias. Feliz e abençoado Natal!
Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia, Coaching
Postado em 21/12/2012 às 10h51