Multimídia - Notícias
Artigo do padre Ivanaldo: Ser pobre de espírito
Considere-se a distinção entre ser pobre e ser miserável. O dicionário define como pobre aquele que carece de condições essenciais à sua subsistência, não possui recursos econômicos e vive à margem da sociedade; miserável é aquele digno de piedade, lastimável, malvado, perverso, infeliz, infame e avarento. Enquanto o conceito de pobreza destaca aspectos de ordem externa (física, cultural, econômica, e social), o de miserável refere-se a aspectos da condição existencial, moral e psicológica: caráter, ética, conduta, jeito de ser e viver.
Em termos de solução, a erradicação da pobreza está intimamente ligada à consciência, responsabilidade social e diretrizes políticas sob condução de lideranças governamentais. Em contraposição, questões referentes à miserabilidade exigem, antes de tudo, disposição interna e comprometimento pessoal, alicerçados em princípios e valores atemporais. É possível ser pobre e não ser miserável; é possível ser abastado e ser miserável. Assim, compreende-se o: “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus”. No chamado sermão das bem-aventuranças, Jesus lança um projeto de vida que, baseado na busca pela verdadeira felicidade, tem como princípio a adesão que se concretiza em atitudes: mansidão, pureza de coração, promoção da paz, promoção da justiça...
Pobres ‘em’ espírito são aqueles que percorrem o caminho da existência no exercício da verdadeira liberdade, no desapego de todas as coisas e pessoas, e que experimentam a certeza de que renunciar é ganhar um bem maior do que aquilo a que se renuncia; os pobres ‘em’ espírito depositam sua confiança e esperança em quem, de fato, tudo lhes prove: Deus. Os pobres ‘de’ espírito, miseráveis, depositam sua confiança no poder, na arrogância e no orgulho. Resta-lhes uma única coisa: a si próprios.
Na mensagem por ocasião da Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, o Papa Francisco recomenda aos cristãos católicos e a todos os homens de boa vontade a unirem-se no combate a três grandes formas de miséria que assolam a humanidade: a miséria material que atinge todos aqueles que vivem numa condição que fere a dignidade humana; privados dos direitos fundamentais e bens de primeira necessidade; a miséria moral que torna o humano escravo dos vícios, das drogas lícitas, ilícitas e submisso ao pecado; a miséria espiritual que distancia o ser humano de Deus, raiz primeira de sua existência.
Esforcemo-nos por banir todas as formas de miséria, a começar por aquelas que insistem em habitar o íntimo de nós. Pobres ‘em’ espírito, unamo-nos, na superação da pobreza que deixa marcas profundas de dor no coração de cada ser humano e de toda humanidade.
Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia
ivanpsicol@hotmail.com