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Artigo do padre Ivanaldo: Sobre perdas e separações
Estar próximo às pessoas em momentos decisivos de suas vidas permite-nos observar a diversidade de reações, o que se converte em valor quando favorece uma melhor do ser humano. Desfrutei desta riqueza ao participar de dois funerais que aconteciam simultaneamente. Embora o assunto incomode, a morte biológica está entre as poucas certezas que temos; significa á grosso modo, por razões naturais ou acidentais, incompatibilidade com a vida humana.
Naquela ocasião pude observar, refletir, elaborar e compreender a distinção acerca de dois fenômenos existenciais importantes: a perda e a separação. De um lado prevalecia a experiência da perda. Toda perda é dolorosa e, a perda de algo que, entende-se, não mais encontrar, gera desesperado. Perder significa ser privado de algo possuído, prejuízo, derrota. Àqueles que internalizaram o sentimento de perda, sobretudo em relação a pessoas, sofrem um trauma profundo; sentindo-se injustiçados, traídos e derrotados vivem o luto eterno.
Do outro lado prevalecia a experiência da separação. Separar-se de algo ou alguém importante, mesmo que temporariamente, gera desconforto e insegurança. No entanto, a separação remete-nos á experiências positivas que marcam, sobremaneira, a existência humana. O ápice da gestação através do parto, o afastamento do seio materno, a separação do núcleo familiar e tantas outras, até a separação física, provocada pela morte, são absolutamente naturais e necessárias, visto que promovem crescimento, desenvolvimento e amadurecimento em todos os níveis e dimensões.
Separação provoca distanciamento, não perda. Sob este foco, os que se separam ou são separados, não se perdem; são distanciados, temporariamente, até que, quando comungarem das mesmas condições, reencontrem-se. Os que assimilam e internalizam a separação estão mais aptos à superação, pois têm e levam o outro dentro de si, na memória, no coração, na vida e na fé.
A vida coloca-nos, constantemente, diante da possibilidade de conferir, a cada experiência, sentido de perda ou de separação. A perda gera reações negativas e escraviza, significando que a experiência vivida não valeu a pena, resultando em amargura eterna. Os filhos da perda perdem-se, igualmente, no sofrimento insuperável. Perder significa “até nunca mais”. A separação, bem vivida, gera reações positivas, lança o ser humano, para além do alcance dos olhos, permitindo-lhe mergulhar e saborear o verdadeiro sentido da liberdade, significando que a experiência vivida só valeu a pena, alimenta a gratidão e a esperança. Separar significa “até mais”.
Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia
ivanpsicol@hotmail.com