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Artigo do padre Ivanaldo: Vossa majestade, a ignorância
Teoricamente, ignorância é a condição daquele que não tem conhecimento da existência ou funcionalidade de algo; estado da pessoa desprovida de conhecimento, cultura e estudo; comportamento grosseiro. Historicamente, o conceito de ignorância está atrelado à formação intelectual, àquilo que o sistema vigente considera ou não como válido. Sendo assim, em nosso tempo, a era do conhecimento, quando o número de pessoas sem acesso à formação e informação torna-se cada vez menor, o nível de ignorância deveria, igualmente, diminuir. A prática contraria a regra.
Os indicadores de conhecimento não são mais a formalidade na fala, a quantidade de diplomas, títulos e outros elementos tidos como indispensáveis numa sociedade que cultua o racionalismo. Atenção! A ignorância se disfarça, enquadrando-se nos padrões exigidos pela sociedade de cada tempo, mantém-se viva, eficiente eficaz em seus propósitos. Se a sabedoria ilumina e esclarece, desafiando o homem ao desenvolvimento crescimento, amadurecimento e equilíbrio constante, a ignorância afunila a visão, estreita os horizontes.
São muitos os mecanismos e instrumentos utilizados pela ignorância. A ignorância é anacrônica (fora do tempo): avalia, julga e condena desconsiderando tempo e contexto; a ignorância é dissimulada: distorce e manipula a realidade; a ignorância pauta-se pelo poder, desconhece valores e princípios; a ignorância é inimiga da reflexão, busca destruí-la; a ignorância tem medo da Verdade, justifica-se: ‘cada um tem a sua’; a ignorância coage e persegue; a ignorância não discute ideias, materializa o alvo de sua fúria em pessoas; a ignorância disfarça-se de defensora do livre pensar, sentir e agir.
Os filhos e agentes da ignorância multiplicam-se velozmente, estão em toda parte, disfarçados de cidadãos politizados e instruídos, promotores do bem comum e da justiça, estrategicamente organizados em ‘situação’ e ‘oposição’, mantêm o ‘status quo’ (as coisas como estão), alternando-se no controle da situação. Sufocam as tentativas de reação. Qualquer revolução, mínima que seja, pode tirá-los da confortável posição galgada sob a desgraça da maioria.
A monarquia injusta continua a fazer de nós, brasileiros, colônia de exploração, não mais de estrangeiros. Impera sobre nós a mais terrível coroa. Curvamo-nos, como súditos cegos que, satisfeitos com migalhas, ás custas do sangue de seus compatriotas, fazem questão de não enxergar a realidade e exclamam: “Vossa majestade, a ignorância!”.
Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia