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Circular 06/09 de Dom Edmilson - CEBs
Barretos, 18 de maio de 2009.
Circular 06/09
Caríssimos irmãos e irmãs no Senhor, paz!
Dentro do contexto de Missão Continental e do Projeto Nacional de Evangelização, teremos neste ano um acontecimento eclesial relevante: o 12º. Intereclesial de CEBs, em Porto Velho-RO, de
A abordagem teológica e pastoral de temas ecológicos não pode ser considerada como um fanatismo, ou até mesmo como uma idolatria da natureza. Trata-se de entrar num processo de conversão para o projeto de Deus sobre o homem e a natureza, valorizando a solidariedade e a comunhão entre as pessoas. Há 30 anos cantávamos no canto de abertura da Campanha da Fraternidade de 1979: “Perdão, Senhor, é idolatria amar a morte. Nosso egoísmo mancha o céu, a terra e o mar...” O pecado, a desordem, traz como consequência a “descomunhão” do homem com o projeto de Deus em todos os sentidos.
Serão as CEBs que vão refletir sobre este tema e darão uma contribuição pastoral e teológica para a caminhada. Além disso, as CEBs fazem, desta maneira, estar presente uma Igreja viva, comprometida e encarnada na história.
O Documento de Aparecida (DAp) reafirma a importância eclesial e profética das CEBs na caminha pastoral da Igreja na América Latina: “Na experiência eclesial de algumas Igrejas da América Latina e Caribe, as Comunidades Eclesiais de Base têm sido escolas que têm ajudado a formar cristãos comprometidos com sua fé, discípulos e missionários do Senhor, como o testemunha a entrega generosa, até derramar o sangue...Elas abraçam a experiência das primeiras comunidades, como estão descritas nos Atos dos Apóstolos (At 2,42-47). (...) têm a Palavra de Deus como fonte de sua espiritualidade e a orientação de seus pastores como guia segura de comunhão eclesial. Demonstram seu compromisso evangelizador e missionário entre os mais simples e afastados, e são expressão visível da opção preferencial pelos pobres. (...)” (DAp 178-179).
As CEBs possuem já uma “tradição” de experiência evangelizadora em pequenas comunidades. Comunidades que nascem do meio do povo e que, não fechadas em si mesmas, abrem-se à missão. A descentralização das grandes comunidades massivas faz surgir a pequena comunidade como espaço privilegiado para a experiência de Deus e formação cristã. A experiência do amor libertador do Senhor Jesus vivido nas comunidades não pode ficar enclausurada. Para que a comunidade esteja apta para a missão ela é gestada na catequese, primeira ocupação da comunidade. “A comunidade eclesial é o espaço para integrar fé e vida; para vivenciar e aprofundar a Palavra de Deus, a Eucaristia e a prática da solidariedade, vivenciar o verdadeiro processo de educação na fé tendo, enfim, uma profunda experiência de Igreja.” (Cartilha do 12º. Intereclesial de CEBs)
As CEBs na Amazônia possuem uma experiência evangelizadora que pode nos enriquecer, não somente quanto à questão ecológica, mas também na vivência de um espírito missionário encarnado. Faço agora algumas considerações a partir do texto base e da cartilha do 12º. Intereclesial.
A REALIDADE DA AMAZÔNIA
A Amazônia possui um bioma complexo, de modo que cientistas e biólogos ainda não conseguiram identificar toda esta riqueza. É o berço de vários povos que habitam a região há mais de 10 mil anos. Possui um grande potencial genético e farmacêutico com seus produtos de alto valor social, cultural e econômico.
No entanto, a riqueza natural da Amazônia está ameaçada por causa da ambição que tem gerado diversos conflitos sociais. Desde a chegada do elemento europeu para a sua exploração, a Amazônia tem sofrido alterações naturais e culturais. O recurso natural mais prejudicado na Amazônia e no mundo são os mananciais de água potável que já está em falta em muitos lugares. O Brasil mesmo possuindo a maior quantidade de água doce do mundo, tem poluído os mananciais, além de ser o 4º país em emissão de gases, fato favorecido pelo desmatamento e as queimadas. A agricultura familiar na Amazônia, que emprega quase dois milhões de pessoas no campo, está sofrendo grande oposição do agro negócio. Tudo isso gera, não somente um empobrecimento da natureza, mas também das pessoas.
Não poderia o 12º. Intereclesial deixar de falar da mulher da Amazônia, a qual carrega no seu contexto cultural uma missão especial: manter unidos os grupos familiares. Isso na maioria das vezes implica na defesa da vida (família, comunidades, tribos, florestas). A mulher idosa é ícone da sabedoria, pois é capaz e autorizada a transmitir a sabedoria alimentar: dieta feminina própria ( que protege a maternidade e a saúde da prole) e a identificação de alimentos nocivos à saúde. Entretanto, a mulher da Amazônia tem hoje que lutar contra violência sexual, o tráfico de mulheres, meninas para a prostituição nos canteiros de obras dos grandes projetos econômicos, gravidez precoce etc.
É óbvio que o intereclesial não poderá deixar de valorizar os povos indígenas da Amazônia. Estes povos, sustentados por sua cosmovisão religiosa vão tentando encontrar formas e conceitos para responder às ameaças à vida. A espiritualidade da religiosidade indígena está centrada na celebração, cheia de elementos simbólicos que manifestam a necessidade de harmonia e comunhão com a natureza. Esta consciência religiosa traduz-se na estruturação de um sistema econômico solidário, comunitário, ecologicamente sustentável, de modo que, logicamente, não se visa o acúmulo de bens através de um trabalho explorador.
O acúmulo de riquezas é o grande responsável por uma cultura de morte que transforma tudo em lucro. Vivemos numa crise de ética e espiritualidade. As CEBs são um bom “investimento” na evangelização e educação.
O ROSTO DA IGREJA DA AMAZÔNIA
As comunidades da Amazônia aprenderam a reconhecer a própria história na História da Salvação. A Palavra de Deus tem animado a caminhada, pois ilumina as lutas e conquistas do povo. A Palavra de Deus tem encorajado as comunidades libertando-as do medo e encorajando-as a estabelecer novas relações com os irmãos, com a natureza, sem exclusão e com preservação.
A Igreja, há mais de três décadas, estabeleceu diretrizes de modo a encarnar-se na realidade da Amazônia dando acento especial à dimensão sócio-transformadora da evangelização. Aqui as CEBs surgem como um espaço especial onde foram sustentadas várias lideranças. Diz a Cartilha do 12º. Intereclesial: “...as pequenas comunidades eclesiais são como o Bom Samaritano a debruçar-se sobre o caído, curar-lhe as feridas, devolver-lhe a dignidade de viver, na certeza de que ele nunca estará sozinho nas estradas deste mundo desigual. Na Amazônia são muitos aqueles que puderam experimentar a Igreja como Samaritana.”
A Amazônia é uma diversidade territorial, cultural, social, econômica e religiosa. Mais de 70% da população da Amazônia é urbana. Hoje o grande desafio das CEBs é “firmar a rica experiência da Igreja em solo urbano”.
A Igreja está a serviço do Reino de Deus que foi o núcleo da pregação de Jesus. Este Reino realiza-se em diversas realidades. A concretização dos valores do Reino de Deus dá-se na solidariedade, na comunhão, na defesa da vida. “A tarefa essencial das CEBs é testemunhar publicamente a missão recebida de Jesus, de ser sinal do Reino de Deus na Igreja e na sociedade”. (Cartilha) Neste sentido o 12º. Intereclesial de CEBs, na Amazônia, deve fazer memória de tantas vozes e atitudes proféticas que surgiram das comunidades da Amazônia. E como não juntar ao testemunho profético tantos mártires do Reino de Deus e da defesa da vida que surgiram das comunidades no solo amazônico?
O Ecumenismo e o diálogo interreligioso ajudam a concretizar os valores do Reino de Deus. “As CEBs são chamadas a colaborar também com outras igrejas e com lideranças da sociedade, em geral, para proteger o planeta terra e defender a vida ameaçada. As CEBs são o lugar da prática efetiva da acolhida do outro, do diferente, de respeito à dignidade e individualidade humanas.” (Cartilha)
CEBs: DISCIPULADO E MISSIONARIEDADE
O 12º. Intereclesial quer que as CEBs redimensionem a realização da missão e a própria concepção da missão:
a) missão não está somente ligada a território ou região distante;
b) a missão se faz a partir de onde estamos;
c) a Igreja (nós) é missionária por natureza;
d) a comunidade é, em primeiro lugar, o espaço para a missão;
e) a missão deve estar encarnada na realidade histórica;
f) a Igreja não vive para si mesma; mas está a serviço do Reino;
g) a missionariedade da comunidade tem sua expressão primordial em nosso tempo na acolhida dos excluídos, na realização das obras de misericórdia.
A DIOCESE DE BARRETOS NO 12º. INTERECLESIAL DE CEBs
Em comunhão com este momento eclesial da Igreja no Brasil, a nossa diocese se fará presente neste encontro. Neste último final de semana acolhemos na cidade de Colina os membros da Colegiada das CEBs do Estado de São Paulo, com a presença do bispo referencial das CEBs do Regional Sul 1, D. Maurício Grotto, arcebispo de Botucatu. Para Porto Velho estaremos enviando 07 delegados: José Albino de Oliveira (Zezinho) da Paróquia de Miguelópolis; Sonia Regina de Souza, da Paróquia da Catedral; João de Souza Lima, da Paróquia N. S. Aparecida de Guaíra; Marisa Tonioku, da Paróquia de Colina; José Carlos Soares, da Paróquia de Colina; o seminarista Luis Paulo Soares; e o Pe. José Roberto Alves Santana, pároco da Paróquia de Colina. Eu estarei presente por dois dias no encontro.
Sem dúvida, a realidade da Amazônia é diferente da realidade do Estado de São Paulo e da nossa diocese. Contudo, a experiência daquelas comunidades e de outras realidades do Brasil, além de nos enriquecer nos fará experimentar a unidade e a comunhão que por si só são evangelizadoras. Não se tratará simplesmente de um encontro com celebrações e palestras, mas os irmãos participantes farão a experiência da Visitação a várias realidades das comunidades eclesiais em Porto Velho, coração da Amazônia.
Concluo esta circular pedindo a todos: Paróquias, Comunidades eclesiais, Comunidades religiosas, Pastorais e Movimentos que auxiliem na viagem dos nossos delegados. A viagem é longa e a missão dos nossos irmãos no 12º. Intereclesial é de grande riqueza para nós.
Nos dias 06 e 07 de junho, Solenidade da Santíssima Trindade, a perfeita comunidade, ícone que inspira e sustenta a nossa caminhada, faremos em todas as Celebrações, em todas as paróquias uma coleta para auxiliar na viagem dos nossos delegados no 12º. Intereclesial de CEBs em Porto Velho-RO. O dinheiro arrecadado deve ser depositado:
Banco: SATANDER - Agência: 0275 - Conta: 13000422-4
Em nome de: Mitra Diocesana de Barretos
Ou, então, enviar para a Mitra Diocesana, avisando a quantia enviada para que se possa repassar em benefício do Intereclesial.
Espero contar com a colaboração, comunhão e solidariedade de todos neste evento evangelizador.
Saudações fraternas em Cristo.
+ Edmilson Amador Caetano, O.Cist.
Bispo diocesano